Eleição em Floripa: Topázio reeleito, Câmara com menos mulheres e alta abstenção
Na edição #8 da Expresso, analisamos os resultados do pleito em Florianópolis.
Oi, mais uma Expresso chegando ☕ para repercutir as eleições em Florianópolis. Por aqui, o pleito foi resolvido em primeiro turno: Topázio Neto (PSD) foi reeleito com 58,49% dos votos. Uma vitória expressiva, de acordo com especialistas.
Tivemos também mudanças na composição da Câmara de Vereadores: com uma mulher indígena eleita, mas com menos representatividade feminina e cenário favorável a Topázio Neto.
Além disso, Florianópolis teve elevada abstenção: 28,04% - maior do que o percentual nacional e com índice muito próximo ao pleito passado, quando vivíamos uma pandemia. Vamos nessa?
Popularidade alta e defesa sobre problemas da cidade
Não foi surpresa a vitória de Topázio Neto neste domingo. Na edição passada da Expresso, especialistas já traziam essa possibilidade. No entanto, as pesquisas mostravam crescimento de Marquito (PSOL), e a esquerda estava confiante em uma disputa em segundo turno.
No fim, Topázio fez 161.839 votos, conquistando sua primeira vitória nas urnas (já que no pleito passado foi eleito vice e assumiu a prefeitura em 2022, quando Gean Loureiro deixou o cargo para disputar o governo do Estado). Marquito conquistou 61.509 votos - 22,23% do total.
“Para quem nunca foi votado, eu estou muito feliz com a quantidade de votos que a gente recebeu”, disse Topázio após a vitória, como mostra o NSC Total. No mesmo discurso, prometeu cumprir os compromissos de campanha: “A população pode me cobrar. Não tem nenhuma promessa vazia, todas são realizáveis”.
A vitória é “muito expressiva”, para Daniel Corrêa, professor de Relações Internacionais, Direito e Comércio Exterior da Univali. “A candidatura conseguiu se descolar das acusações de corrupção derivadas das operações Mensageiro e Presságio. Topázio soube se defender bem também dos problemas vinculados à saúde e à educação, especulação imobiliária e moradores de rua, além de convencer o eleitor de que a prefeitura não está quebrada. O trabalho de marketing foi muito bem feito”, resume.
Casos de suspeita de corrupção não tiveram impacto nas urnas
Em janeiro deste ano, foi deflagrada a Operação Presságio, que investigou suposto esquema envolvendo fraudes em licitação, corrupção passiva e lavagem de dinheiro dentro da prefeitura de Florianópolis. A apuração levou à prisão o ex-secretário de Turismo, Cultura e Esportes, Ed Pereira, que fez parte do primeiro escalão do governo municipal. Ele foi solto em 23 de agosto após três meses detido.
Os casos de suspeita de corrupção vieram à tona nos debates principalmente por denúncias de Lela (PT), Pedrão (PP) e Dário (PSDB). Na última quinta-feira, no embate promovido pela NSC, o candidato do PT trouxe para discussão a investigação de fraude de funerárias que envolve o ex-secretário de Limpeza e Manutenção Urbana de Florianópolis, João da Luz, segundo denúncia do Ministério Público.
Ele é suspeito de receber presentes, como chinelo de R$ 4 mil e viagens para facilitar práticas ilegais que prejudicam os consumidores. Lela perguntou a Topázio se ele deu poderes a João da Luz para negociar com as funerárias.
Topázio rebateu, chamou Lela de mentiroso e se defendeu: "Nenhum prefeito combateu tanto a corrupção quanto eu combati: criamos uma força-tarefa, trouxemos Polícia Civil, Ministério Público, e todas as pessoas citadas e envolvidas (nos casos de suspeita de corrupção) foram afastadas da prefeitura", respondeu.
As investigações e a tentativa dos adversários de tentarem associar Topázio a essas suspeitas não tiveram impacto para o eleitor - pelo menos é o que mostra o resultado das urnas deste domingo.
Por que Marquito ficou de fora?
Para o professor de Administração Pública Daniel Moraes Pinheiro, pesquisador da área de Cultura Política da Udesc, “as estratégias do Topázio, sua popularidade e os erros estratégicos dos adversários criaram o clima ideal para uma vitória em primeiro turno”.
Essas estratégias, explica, envolvem uma imagem de popularidade e eficiência. “Ele manteve nesses dois anos o controle da Câmara, que é fundamental para o Executivo. Assim, as denúncias de corrupção no seu entorno ficaram longe de ferir sua imagem”.
*Brunno Dias (PCO) e Mateus Souza (PMB) fizeram 0,03% dos votos cada.
Os derrotados
Para Daniel Corrêa, da Univali, Gean Loureiro e Dário Berger são os grandes derrotados nesta eleição. “Candidatura de dois ex-prefeitos, sendo um deles (Gean) o vencedor em primeiro turno da última eleição e candidato ao governo do Estado dois anos atrás e que fica em quarto lugar, com baixa votação. Muito emblemático”, explica.
Gean decidiu apoiar Dário após rompimento com Topázio, que era seu vice. O ex-senador Dário chegou a figurar em segundo lugar em algumas pesquisas de intenção de voto, mas terminou a corrida municipal em quarto: recebeu 16.750 votos, 6,05% do total.
O vitorioso
Corrêa complementa: “Jorginho Mello também foi um grande vitorioso neste domingo. A eleição foi resolvida em primeiro turno também nas três cidades (Joinville, Blumenau e Florianópolis) em que poderia haver segundo turno em SC, sendo que nenhum deles se opõe ao atual governador. Nas outras cidades importantes do estado, o governador também colheu vitórias”, resume.
A jornalista Amanda Miranda fez uma análise sobre os resultados das urnas em Santa Catarina. Vale a leitura.
Abstenção elevada
Um elevado número de eleitores não votaram neste primeiro turno em Florianópolis. Com isso, a abstenção na cidade foi de 28,05%. O índice é o quinto maior entre as capitais e está acima do percentual nacional, de 21,71%.
Além disso, está próximo à abstenção de 2020, que chegou a 28,7% - na época, no entanto, vivíamos uma pandemia e por questões sanitárias muitas pessoas não foram às urnas. Em 2016, por exemplo, a abstenção no primeiro turno de Florianópolis foi de 12,3%.
Câmara dos Vereadores
A casa legislativa permanece com maioria conservadora, com 10 das 23 vagas ocupadas por PL e PSD, partido do governador Jorginho Mello e do prefeito reeleito Topázio, respectivamente.
As duas siglas ampliaram a presença na Câmara. Em 2020, cada uma elegeu dois vereadores, nesta foram cinco cada. O PSDB reduziu as cadeiras de duas para uma. Novo, PSC e Podemos, que tiveram eleitos em 2020, não terão representantes a partir de 2025.
Já o PT, ampliou uma cadeira, chegando a dois vereadores. O PSOL mantém suas três legislaturas, mas renova sua bancada, aponta Corrêa. Com exceção da reeleição de Afrânio Boppré, os outros dois parlamentares ocuparão uma vaga pela primeira vez: Camasão, que fez 3.975 votos, e Ingrid Sateré-Mawé, mulher indígena, que conquistou 3.430 votos.
No entanto, Florianópolis diminuiu a representatividade de gênero na Câmara, com uma mulher a menos do que no pleito passado. “Novamente temos uma representação feminina muito adjacente, o que não parece ser importante ao eleitorado”, pondera Pinheiro.
Em resumo, “Topázio terá entre 16 e 18 cadeiras com apoiadores de seu governo, não deve enfrentar dificuldades na Câmara”, diz Corrêa.
Os eleitos
Gemada (PL) - 6.968 votos
Manu Vieira (PL) - 6.727 votos
Afrânio Boppré (PSOL) - 6.061 votos
Carla Ayres (PT) - 5.743 votos
Bericó (PL) - 5.476 votos
Dinho (União) - 5.372 votos
Roberto Katumi (PSD) - 5.357 votos
Josimar Pereira Mamá (União) - 5.334 votos
Ricardo Pastrana (PSD) - 5.205 votos
João Cobalchini (MDB) - 5.073 votos
Adrianinho (Republicanos) - 4.641 votos
Camasão (PSOL) - 3.975 votos
Gui Pereira (PSD) - 3.885 votos
Jeferson Backer (MDB) - 3.696 votos
Pastor Giliard Torquato (PL) - 3.675 votos
Pri Fernandes Adote (PSD) - 3.589 votos
Ingrid Sateré-Mawé (PSOL) - 3.430 votos
João Padilha (PL) - 3.173 votos
Claudinei Marques (Republicanos) - 3.110 votos
Rafinha de Lima (PSD) - 2.765 votos
Renato da Farmácia (PSDB) - 2.650 votos
Bezerra (MDB) -2.607 votos
Professor Bruno (PT) - 2.235 votos
Essa edição foi revisada pela jornalista Gabriela da Silva.
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Muito bom o conteúdo, Raphaela, tudo bem explicado. Eu mesmo torcia por um segundo turno, mas, depois que Gean ganhou na eleição passada em primeiro turno com um escândalo nas costas, acho que nenhuma corrupção vai manchar alguém de direita na cidade. Não com a Câmara ao lado e com a Prefeitura sendo um dos maiores anunciantes no jornalismo local. Mas também tem a questão de que o Topázio era a única candidatura do bolsonarismo florianopolitano. Se houvesse outra, teria dividido os votos e forçado o segundo turno, como foi em São Paulo.